O Ano Litúrgico
O ponto central das celebrações da Igreja e eixo articulador do Ano Litúrgico é a Páscoa: o mistério de Jesus Cristo morto e ressuscitado que envia o seu Espírito para conduzir seu povo.
A força e o objetivo dos três períodos do Ano Litúrgico é fazer memória do Mistério da Vida, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.
O Ano Litúrgico pode ser comparado a uma corrente formada por 365 ou 366 anéis, que são os 365 dias do ano, todos eles ligados por uma única força: A Páscoa de Jesus que vai se transformando na páscoa de seu povo.
O Ano Litúrgico é o tempo de salvação que Deus nos oferece e faz acontecer na caminhada da vida, para que toda a vida humana seja iluminada pela ressurreição de Cristo.
Viver o Ano Litúrgico é mais do que recordar é celebrar a presença de Deus em nosso meio.
O Ano Litúrgico é o convite à vivência e ao compromisso na transformação da história na perspectiva do reino.
a) ANO LITÚRGICO
O Ano Litúrgico é a presença de Jesus Cristo na caminhada dos 365 dias do ano. Ou melhor, é o Mistério de Jesus Cristo celebrado e vivido pelas comunidades cristãs, como presença viva (que nunca passa), na historia, nas atividades e nos nossos dias que vão passando. Jesus Cristo está sempre presente e atuante em nosso tempo. "Cristo, ontem, hoje e sempre" (Hb 13,8)
»»» Por que "ANO"? Porque a vida humana decorre no tempo. O tempo se sucede em horas, dias, anos. Este é o nosso "lugar" no qual vivemos e celebramos a presença do tempo eterno de Jesus Cristo em seus diferentes mistérios.
»»» Por que "LITÚRGICO"? Liturgia é o serviço e a ação de Jesus Cristo e da Igreja sob o impulso do Espírito Santo, que celebramos nas horas, dias, semanas, meses, ontem, hoje, amanhã do nosso tempo (ano). Os cristãos passam a viver este tempo na perspectiva e como Jesus Cristo viveu agindo e tornando sempre mais perfeita a nossa caminhada.
b) CALENDÁRIO LITÚRGICO
As comunidades para celebrarem e viverem o ano litúrgico, necessitam de um Calendário Litúrgico. Através do qual, a paróquia e as comunidades podem programar e organizar as festas e as celebrações da caminhada ao longo do ano.
Portanto, o calendário litúrgico está a serviço da vivência, celebração e programação do Ano Litúrgico. Ele é um "instrumento" necessário e indispensável para se celebrar e viver a presença de Cristo no tempo da comunidade, da sociedade e da Igreja local.
c) Como foi organizado o ano litúrgico?
O Ano Litúrgico foi organizando-se lentamente ao longo dos séculos e a partir da experiência de fé das comunidades em Jesus Cristo. As primitivas comunidades, semanalmente celebravam o grande acontecimento, no primeiro dia da semana (o Domingo), e anualmente a Páscoa e mais tarde, a afirmação da vida humana de Jesus Cristo originou o segundo grande núcleo do Ano Litúrgico: O Natal.
DOMINGO PÁSCOA NATAL
Aos poucos foram sendo acrescentadas comemorações ao redor da Páscoa que semanalmente lembram o acontecimento da morte e ressurreição e, ao redor do Natal, que comemora o nascimento de Jesus. O Ano Litúrgico divide-se em três partes:
TEMPO PASCAL TEMPO DO NATAL TEMPO COMUM
Cada uma das partes do Calendário Litúrgico manifesta e torna presente um aspecto e, ao mesmo tempo, toda a história da salvação, que tem como centro Jesus Cristo morto, ressuscitado e glorificado.
O acontecimento da Morte e Ressurreição de Jesus Cristo está no centro da história da salvação, da vida cristã, do ano litúrgico e da própria liturgia.
Para a Páscoa convergem os tempos que preparam o acontecimento Jesus Cristo.
Da Páscoa tudo recebe nova luz e novo sentido até a realização plena da caminhada humana.
Estavam assim organizados os dois Ciclos: Páscoa e Natal
Quaresma.........»»»» Páscoa......»»»»» Tempo da Páscoa
Advento...........»»»» Natal........»»»»» Tempo de Natal
O Ciclo Pascal
A Quaresma são os 40 dias, a contar da Quarta-feira de Cinzas até a Quinta feira santa. Neste tempo, a Igreja convida todos os seus membros a se prepararem para a festa da Páscoa.
Na Quaresma a liturgia insiste em dois temas: No Batismo e na Penitência. Refletindo sobre estes temas a Igreja interpela a comunidade a retomar o caminho da volta ao Pai. A Igreja propõe uma radical conversão à justiça e ao amor, uma conversão que se traduz no seguimento de Cristo.
O Batismo
O tempo da Quaresma insiste na realidade do Batismo. Nos primeiros séculos do cristianismo predominava a prática do Batismo de adultos. Estes recebiam uma prolongada preparação, atendendo as exigências do conhecimento e do amadurecimento da fé, da aquisição de hábitos de vivência cristã e da participação na oração e na vida da comunidade. Durante a Quaresma concluía-se a preparação próxima ao Batismo a ser celebrado na Vigília Pascal.
Na Vigília Pascal eram celebrados os sacramentos da iniciação cristã: Batismo, Crisma e Eucaristia por isso a liturgia da Palavra da Quaresma lembra os grandes temas da História da Salvação.
A Penitência
A penitência é o esforço que se faz para mudar a mente, o coração e a prática de vida.
A prática da penitência iniciou-se com o costume das pessoas que tivessem cometido pecados graves (adultério, apostasia e homicídio), depois de terem confessado o pecado, na Quaresma ingressavam num tempo de intensa penitência e na Quinta-feira, pela manhã, eram reconciliados. Muitos desses penitentes, depois da confissão realizavam penitências, que podiam durar vários anos.
Na Quarta-feira de Cinzas os penitentes eram simbolicamente expulsos da comunidade, acompanhados com a oração e reintegrados na comunhão comunitária na Quinta-feira Santa.
A quaresma tem inicio na Quarta-feira de cinzas. Nos primeiros séculos, a Igreja tinha práticas especiais para com os pecadores que desejassem voltar ao arrependimento e à comunhão comunitária.
Durante os séculos IV e V desenvolveram diversas práticas penitenciais. Quarenta dias antes da Vigília Pascal, o Bispo impunha-lhe as mãos e as cinzas aos penitentes. Estes revestiam-se de sacos, mostrando a todos sua condição de pecadores arrependidos. A comunidade os acompanhava com suas orações. No século XII, a imposição das cinzas passa a ser uma prática para todos os cristãos. O rito é introduzido na liturgia oficial da Igreja.
A liturgia da Quarta-feira de Cinzas faz uma síntese da prática cristã que leva á conversão. O Evangelho de Mateus propõe a esmola, a oração e o jejum (Mt 6,1-8.16.18).
Os Domingos da Quaresma
Nos cinco domingos da Quaresma as comunidades se reúnem para celebrar a presença viva do Senhor que nos mostra qual é o caminho para a vitória definitiva da Páscoa. A renovação litúrgica pós-conciliar recuperou o catecumenato e propõe verdadeiras catequeses batismais nas leituras da quaresma, embora com diferentes perspectivas para cada ciclo. Ciclo A: o Batismo; Ciclo B: a aliança; Ciclo C: a conversão.
Nas comunidades durante a Quaresma, se fazem também celebrações penitenciais, como sinais da nossa busca de conversão e da misericórdia de Deus que nos acolhe em seu perdão. Também é tempo do "ofício", como meio de intensificar a oração.
São vários os símbolos e atitudes que acompanham esse tempo, no qual, como em toda preparação, já saboreamos de certa maneira a festa que virá. Alguns dos mais importantes são:
A cor roxa, as cinzas e a Cruz lembram o caráter de penitência e conversão. A gravidade e o "luto" da Quaresma se manifestam também no visual do espaço celebrativo, sóbrio, despojado. Por isso, neste tempo se evita enfeitar o altar com flores.
O jejum (com a cabeça perfumada) nos orienta a dar mais atenção à Palavra de Deus. Quando a gente faz jejum, a gente fica com fome. E a fome que sentimos, quando fazemos jejum, simboliza a fome que temos da Palavra de Deus e, ao mesmo tempo, nos tornamos solidários com o povo que passa fome.
A Campanha da Fraternidade nos leva a caracterizar nosso esforço comunitário de conversão por meio de um serviço bem concreto e de gestos de solidariedade.
A oração através do Ofício da Quaresma.
As Celebrações penitenciais comunitárias e a confissão dos pecados individualmente diante do Ministro ordenado da Igreja.
As Caminhadas Penitenciais, Procissões e Via-sacra. Que expressam nossa vontade de participar da caminhada de Jesus sofredor, de ontem e de hoje.
Expressamos o "clima" próprio da Quaresma também por meio da música. Há músicas próprias que caracterizam esse tempo. Para ajudar nessa vivência, é aconselhável também que se evite na Quaresma o toque de instrumentos musicais. A não ser que seja para sustentar o canto. Para isso, nada de música instrumental, nem canto de "Glória" nem de "Aleluia".
O Domingo de Ramos
No Domingo de Ramos a comunidade realiza a Procissão de Ramos. Procissão que surgiu no século IV, na cidade de Jerusalém. Era um profissão pública da fé em Cristo, Messias, Salvador. Um testemunho aos pagãos da fé em Cristo, Messias. Com a bênção dos ramos, abre-se a Semana Santa.
Como parte da Quaresma , se celebra ainda na Quinta-feira Santa a missa dos "Santos Óleos".
A Semana Santa
O Mistério Pascal é considerado o fato primordial da nossa fé e o centro de todas as celebrações litúrgicas cristãs. Histórica e teologicamente, o ano litúrgico surgiu e se desenvolveu como ação pascal e da redenção de Jesus. Examinando os dias da celebração da paixão, morte e ressurreição do Senhor, percebemos que são núcleo das celebrações e constituem o que chamamos de Semana Santa.
É o tempo mais intenso de reflexão e celebração do Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Esta semana chega ao ter o seu ponto alto no Tríduo Pascal. O coroamento do Tríduo é a Vigília pascal, em que se celebra a Ressurreição de Cristo.
A Páscoa – morte e ressurreição de Jesus – é o Tríduo: Quinta-feira, Sexta-feira Santa e o Sábado de Aleluia, culminando na Vigília. No século II apareceram as primeiras notícias de jejuns preparatórios: jejum na Sexta-feira, mas tarde na Sexta-feira e Sábado, depois a semana inteira e por fim, em volta do século IV, quaresma (40 dias) como preparação ao Tríduo Pascal.
Tríduo Pascal
Por volta do século IV, Santo Ambrósio falava do “triduum sacrum” em que Cristo “padeceu, descansou e ressuscitou”. Pouco depois Santo Agostinho, evocava o “Sacratíssimo tríduo do crucificado, sepultado e ressuscitado”.
O Tríduo pascal tem suas raízes na liturgia da Igreja de Jerusalém. Essa Igreja visa representar no local público os acontecimentos do Mistério Pascal. Essa ânsia de representação leva a distinguir seus diferentes aspectos. Isso não é perigoso se continua contemplando a unidade do Mistério Pascal. Porém, com o tempo, essa consciência de unidade vai perder-se, fragmentando assim o centro do tempo litúrgico.
O Tríduo Pascal tem uma unidade, há um sentido unitário da celebração. É a própria páscoa do Senhor, celebrada sacramentalmente em três dias: a Sexta-feira santa – celebra a Paixão, o Sábado Santo – a sepultura e o Domingo – a Ressurreição.
Cada dia do Tríduo relembra o outro e abre-se sobre o outro. O centro de gravitação dos três dias é a Vigília Pascal, com a celebração Eucarística.
Missa Vespertina da Ceia do Senhor
Na missa vespertina da Quinta-feira Santa, fazemos a memória da última ceia do Senhor, e os mistérios recordados: Instituição da eucaristia, instituição da ordem sacerdotal e o mandamento do amor.
A Quinta-feira Santa tem a Missa Vespertina da Ceia do Senhor já no século IV, neste dia celebrava-se duas missas. Atualmente, na Quinta-feira Santa celebramos pela manhã a Missa dos Santos Óleos e ao entardecer temos a Missa da Ceia do Senhor na hora vespertina - 16:00 horas.
A liturgia concentra-se nesse acontecimento, mostrando-o como um “lugar” de caridade (o lava-pés), atualização da celebração da Páscoa Judaica, instituição da eucaristia. É preciso destacar a busca de expressão da unidade do mistério pascal. Isso reflete-se na antífona de entrada: “A cruz de nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glória; nele está nossa vida e ressurreição; foi Ele que nos salvou e libertou”.
O Tabernáculo deve estar vazio. As hóstias para a comunhão dos fiéis serão consagradas na própria celebração da missa – consagrar a quantidade suficiente para o dia seguinte.
Reservar uma Capela para a guarda do Santíssimo Sacramento – lugar para a reposição e a adoração.
Não se pode fazer a exposição com o ostensório. O tabernáculo ou custódia não deve ter a forma dum sepulcro.
A capela da reposição não é preparada para representar “a sepultura do Senhor”, mas a fim de guardar o pão eucarístico para a comunhão.
Durante a noite a adoração do Santíssimo Sacramento se fará até a meia noite, faça-se a adoração sem solenidade, pois, a partir daí; já começou o dia da Paixão do Senhor.
Terminada a missa, o altar da celebração seja desnudado, recomenda-se cobrir as cruzes da igreja com véu da cor vermelha ou roxa.
Primeiro dia do Tríduo: Sexta-feira Santa, “Paixão do Senhor”
No século IV a Sexta-feira Santa, em Jerusalém era um dia dedicado integralmente à oração itinerante, percorrendo os lugares de Jesus.
No século VII, em Roma, já temos a nossa celebração: exibe-se a cruz no altar, depois há uma liturgia da palavra, distribui-se o corpo e o sangue guardados da missa anterior. Por fim, venera-se e beija-se a cruz. É a estrutura de nossa celebração da paixão. Nos países francos, introduz-se posteriormente a oração dos fiéis.
A partir do século XIII, introduz-se uma modificação importante: comunga apenas o sacerdote celebrante. Isso permanece até 1955.
Durante a Idade Média, produzi-se uma progressiva antecipação da celebração. No século XVI, ficou fixada na manhã. A reforma litúrgica voltou a situá-la à tarde.
A celebração atual consta da liturgia da palavra, oração universal dos fiéis, a adoração da cruz e, por fim, a comunhão.
As leituras são dominadas pela paixão do Senhor, a atual oração universal ou dos fiéis é testemunho da liturgia romana primitiva. Sua estrutura é a seguinte: propõe-se uma intenção, ora-se em silêncio e, por fim, o presidente engloba essa oração silenciosa numa oração coleta. Podemos ver nessa oração o paradigma de a oração dominical dos fiéis. É o modelo de uma Igreja verdadeiramente católica, aberta à universalidade dos homens.
A Sexta-feira Santa não é considerada pela liturgia como dia de luto e de pranto, mas dia de amorosa contemplação do sacrifício cruento de Jesus. Hoje, a Igreja não faz funeral, mas celebra a morte vitoriosa do Senhor. Por isso, fala de “Bem-aventurada” e “gloriosa” Paixão”.
Segundo antiquíssima tradição, a Igreja hoje não celebra a Eucaristia: o elemento fundamental e universal da liturgia deste dia é a Proclamação da Palavra.
15 horas – hora da morte de Jesus. A celebração da Paixão do Senhor deve ser nas horas vespertinas.
Altar desnudado, sem cruz, sem velas e sem toalhas.
A Igreja, com a meditação da Paixão do seu Senhor e esposo e com a adoração da Cruz, comemora a sua origem do lado de Cristo, que repousa sobre a Cruz e intercede pela salvação de todo o mundo.
A Sexta-feira da Paixão do Senhor é dia de penitência obrigatória em toda a Igreja, que será observada com a abstinência e o jejum.
Proibidas as celebrações dos sacramentos, exceto os da penitência e da unção dos enfermos.
Reunir, por exemplo, os fiéis ao meio-dia nunca, porém após as vinte e uma horas.
Silêncio – prostração – significado de uma humilhação do “homem terreno” e da tristeza dolorosa da Igreja.
As leituras sejam proclamadas integralmente – a história da Paixão do Senhor segundo João é cantada ou lida.
Na oração universal consente-se ao sacerdote escolher entre as intenções propostas no missal, aquelas mais adequadas às condições do lugar.
A adoração da Cruz de cada fiel é um elemento muito importante desta celebração.
Apresenta-se uma única Cruz para a adoração, em respeito à verdade do sinal.
Não se dá o abraço da paz.
Vias sacras, procissões da Paixão e a memória das dores de Maria.
Segundo dia do Tríduo - O Sábado Santo, sepultura do Senhor
Nos primeiros séculos, nesse dia há jejum absoluto na espera da celebração da ressurreição do Senhor. Depois introduziu-se a “devolução do símbolo” dos catecúmenos. Por esse rito, estes mostram ter aprendido o símbolo da fé da Igreja (o credo).
O grande Sábado é o descanso de Jesus no sepulcro e também sua descida aos infernos, seu misterioso encontro com quantos esperavam serem abertas as portas do céu. É dia de recolhimento na paz e na espera. É o mistério do Senhor morto.
Neste dia a Igreja fica parada junto ao sepulcro, meditando a sua paixão e morte, abstendo-se de celebrar o sacrifício da missa (a mesa fica sem toalha e ornamentos até a solene Vigília ou expectativa noturna da Ressurreição, isto é, sem celebração eucarística – “dia alitúrgico”.
Repouso de Cristo no túmulo – descida à mansão dos mortos.
Recomenda-se a oração das laudes com a participação do povo. (ou celebração da palavra que corresponda ao mistério do dia).
Podem ser expostas, para veneração dos fiéis, a imagem de Cristo crucificado ou “deposto no sepulcro, ou uma imagem da descida à mansão dos mortos que ilustra o mistério do Sábado Santo ou ainda a imagem de Nossa Senhora das Dores.
Hoje a Igreja se abstém inteiramente de celebrar o sacrifício da missa. Rejeite-se a celebração de núpcias e dos outros sacramentos, exceto os da Penitência e da Unção dos Enfermos.
Vigília Pascal
“Na Sexta-feira e no Sábado jejuareis completamente e nada tomareis. Reuni-vos, não durmais, velai a noite toda em orações, súplicas, leitura dos profetas, do evangelho e dos salmos... até as três horas da madrugada seguinte ao Sábado. Então deixareis de jejuar... oferecei vossos dons e depois comei, estai alegres, felizes e contentes, pois ressuscitou o Messias, penhor de vossa ressurreição. Será para vós uma lei eterna até o fim do mundo”. (Didascália dos apóstolos)
Esse documento mostra como se celebrava a Páscoa antigamente. Jejum, reunião da comunidade de fiéis, vigília de oração, leituras do Antigo e Novo Testamento, celebração da eucaristia, ágapes fraternais na alegria do Cristo ressuscitado – elementos fundamentais da vigília pascal.
Nossa celebração atualmente apresenta outros elementos. Uma extensa e rica celebração da Palavra, o Batismo e a bênção da água batismal por volta do século III, o uso do Círio Pascal, precedido da bênção do fogo novo e a procissão da luz.
O simbolismo da luz: importância da luz nas culturas antigas, entre os judeus, ela marca o início do novo dia e, na Sexta-feira à tarde, começa solenemente a celebração do Sábado. Vai-se consagrar a Deus essa luz que iluminará a comunidade na vigília. Uma vez que na tarde da Quinta-feira santa, todas as lâmpadas foram apagadas. É necessário acender um fogo novo. Esse fogo é rodeado de um rico simbolismo. O Círio será aceso, sinal do Senhor ressuscitado, que guiará a comunidade em procissão ao entrar no local da celebração. O Círio é celebrado pela poética e jubilosa ação de graças cantada pelo diácono. Essa é a origem da proclamação pascal, o “Exsultet” (séc. IV).
“Essa noite, segundo antiquíssima tradição, é a noite de vigília diante do Senhor (Ex 12,42), de tal modo que, tendo presente a recomendação do Evangelho (Lc 12,35s), as lâmpadas estejam acesas nas mãos dos fiéis, para que se assemelhem aos homens que esperam que o Senhor volte e assim, quando ele chegar, encontre-os vigilantes e faça-os sentar à mesa”. (Santo Agostinho)
Recorda o êxodo do povo da antiga aliança, da morte e da ressurreição do Senhor, presença de Cristo ressuscitado na assembléia do povo na nova aliança por meio dos sacramentos da iniciação cristã, a espera de seu retorno, que durante um longo tempo acreditou-se que teria lugar precisamente na noite de Páscoa, tal é o conteúdo da vigília santa.
A Vigília Pascal é o coração de todo o Ano Litúrgico, do qual se irradiam todas as outras celebrações. É esta vigília, que culmina com a oferta do sacrifício pascal de Cristo.
Nesta noite santa, a Igreja celebra, de modo sacramental, mas pleno, a obra da redenção e da perfeita glorificação de Deus, como: memória, presença e expectativa.
“Por uma antiqüíssima tradição os fiéis trazendo na mão, (Lc 12,35ss) a lâmpada acesa, assemelham-se àqueles que esperam o Senhor no seu retorno, de maneira que, quando ele chegar, encontre-os ainda vigilantes e faça-os sentar à sua mesa” (IGMR).
Toda a celebração da Vigília Pascal desenvolve-se à noite, ela deve, portanto começar depois do início da noite ou terminar antes da aurora do Domingo”.
Desde o início, a Igreja celebrou a Páscoa anual, solenidade das solenidades, com uma vigília noturna.
A vigília desenvolve-se deste modo: após o “lucernário” e o “precônio” pascal, a santa Igreja medita “as maravilhas” que o Senhor fez para o seu povo desde o inicio, até o momento em que, com seus membros regenerados no Batismo, é convidada à mesa que o Senhor preparou para o seu povo, memorial da sua morte e ressurreição, na expectativa da sua vinda. Esta estrutura dos ritos não poderá ser mudada arbitrariamente.
Estrutura da Vigília Pascal: (quatro momentos)
1. liturgia do fogo e da luz
2. liturgia da palavra
3. liturgia batismal
4. liturgia eucarística
Compreende atos simbólicos e gestos que devem ser realizados com tal amplidão e nobreza que os fiéis possam captar o significado sugerido por monitorias e orações.
Fogo novo e o Círio Pascal: na bênção Cristo aparece como Senhor do tempo, em seguida, o povo em procissão acompanha a coluna de fogo e luz, como fez Israel no deserto, em busca da terra prometida.
A fogueira deve iluminar a noite, o Círio Pascal feito de cera, todo ano novo, único, de tamanho notável, nunca “fictício”.
A procissão de entrada na igreja deve ser guiada pela coluna de fogo.
Lâmpadas elétricas permanecerão apagadas – o diácono, anuncia o “precônio” pascal – forma de poema lírico que proclama todo o Mistério Pascal.
A proclamação do anúncio pascal consta de duas partes. A primeira é um convite à alegria e a segunda parte é uma ação de graças. Com um lirismo exuberante, o “Exultet” apresenta-nos toda a teologia bíblica e patrística da Páscoa: em Cristo atualiza-se toda a história da salvação e a própria Páscoa hebraica. Nele fomos redimidos e regenerados. O hino encerra-se com a espera escatológica do Senhor
2. Liturgia da Palavra
As leituras não têm principalmente uma finalidade didática mas são, antes de tudo uma atualização à luz de Cristo.
As leituras vetero-testamentárias da vigília pascal dos cristãos começam pelos relatos da criação, do sacrifício de Abraão, e da passagem do Mar Vermelho, seguidos de um texto escatológico do livro de Isaías (Is 54,5-14).
Seguem-se depois três leituras mais diretamente orientadas para o Batismo. A leitura do Apóstolo também é batismal (R, 6,3-11) e, por fim, vem o relato do descobrimento do sepulcro vazio pelas mulheres que levam perfumes e o anúncio que recebem do anjo: “Ressuscitou”.
Todas as leituras sejam feitas, de modo a respeitar completamente a natureza da Vigília Pascal, ou pelo menos três do Antigo Testamento.
Cada leitura do Antigo Testamento é seguida de um salmo ou de um cântico, como um eco dele mesma, e depois vem a oração sacerdotal conclusiva.
A passagem do Antigo para o Novo Testamento realiza-se no canto do Glória, enquanto repicam os sinos. Pronuncia-se a Oração Coleta. Após a exortação do Apóstolo sobre o Batismo. Então todos se levantam – o sacerdote entoa o “Aleluia”. Finalmente proclama-se o Evangelho.
3. Liturgia batismal
Após a invocação dos santos, abençoa-se a água batismal. Essa bênção é um autêntico memorial, em que se recorda o lugar da água na obra salvífica de Deus.
O rito de mergulhar o círio, na água é profundamente significativo ao ressaltar, como o fazia Paulo, a intima ligação dos mistérios cristãos com o mistério pascal do Senhor.
Agora a Páscoa de Cristo e nossa é celebrada no Sacramento.
4. Liturgia Eucarística
É conveniente que o pão e o vinho sejam levados pelos neófitos adultos. Ápice da Vigília
Não ter pressa ao celebrar a liturgia eucarística.
É desejável que a plenitude do sinal eucarístico seja alcançado na comunhão da Vigília Pascal, recebida sob as espécies do pão e do vinho.
A liturgia da Vigília Pascal seja realizada de modo a poder: oferecer ao povo cristão a riqueza dos ritos e das orações, é importante que seja respeitada a verdade dos sinais.
Os pastores procurem ensinar cuidadosamente na catequese dos fiéis a importância de tomar parte em toda Vigília Pascal.
O Domingo da Ressurreição
Inicialmente a solenidade pascal consistia na vigília santa, que terminava antes da aurora. Todavia, muito rapidamente se quis prolongar a festividade ao longo do dia de Domingo, tão carregado de lembranças, desde a mensagem do anjo às mulheres que traziam perfumes, até a manifestação do ressuscitado em meio aos dez apóstolos, ao anoitecer.
Acrescenta-se uma segunda missa pascal, inicia-se a oitava pascal com as catequeses mistagógicas
É importante realizar a aspersão de água benta como ato penitencial.
Procissão à “fonte batismal”
O Círio Pascal deve ser colocado junto ao ambão ou perto do altar, permanecendo aceso em todas as celebrações litúrgicas.
O Círio depois seja conservado no Batistério com a devida honra.
O Tempo Pascal
É uma oitava de domingos e uma semana de semanas.
Inicia-se do Domingo da Ressurreição e prolonga-se até o Domingo de Pentecostes.
Este Domingo da ressurreição é também o último dia do tríduo e o primeiro dia da oitava da Páscoa.
A oitava da Páscoa estende-se por uma semana, a partir do Domingo da ressurreição. Isso tem origem no costume de oferecer uma catequese exaustiva nessa semana àqueles que receberam a iniciação na vigília pascal.
Pentecostes, é a festa conclusiva da qüindezena da páscoa que começou a celebrar-se no século III. No começo nesse dia celebrava-se tanto a Ascensão do Senhor, como o envio do Espírito Santo, mas depois as duas festas separam-se.
Liturgicamente, Pentecostes na prática visa a reproduzir a estrutura da Páscoa: é também dotada de uma solene vigília sendo inclusive batizados aqueles que não puderam sê-lo na noite de Páscoa.
No tempo pascal nas leituras, privilegiam-se os livros dos Atos e do evangelho de São João. Eles expõem o tema da Páscoa.
A Segunda leitura é tirada da carta de Pedro; trata-se de uma catequese batismal (Ciclo A), da primeira carta de João, as exigências do amor que brotam do mistério pascal (ciclo B), e do Apocalipse (ciclo C).
Há oração coleta própria para cada dia e cinco prefácios.
A liturgia da Ascensão, insiste em que a Ascensão do Senhor é também a nossa.“... a ascensão do vosso Filho já é nossa vitória. Fazei-nos exultar de alegria e fervorosa ação de graças..” (Oração Coleta)
Pentecostes tem duas missas: a da vigília (com quatro leituras do AT, que se complementam mutuamente. Concentram-se no envio do Espírito como o reverso de Babel, como nova criação) e a do dia.
O Tempo Pascal é muito indicado, liturgicamente, para as celebrações de Crisma e das Primeiras Comunhões, numa continuidade com a noite batismal da Páscoa.
Para os vários momentos da celebração escolher cantos que expressem mais fielmente o Mistério da Páscoa, dentro da nossa realidade.
Coletânea de textos de vários autores. Compilador Antonio Nelson da Silva.